Desde que nos entendemos por gente, a ideia de "propriedade" é clara: a casa é sua, o carro é seu, o livro na estante é seu. Essa noção, vinda desde o Direito Romano e consolidada por filósofos como John Locke, define a propriedade como uma extensão de nós mesmos, um direito quase absoluto de usar, fruir e dispor do que é nosso.
Por séculos, essas regras funcionaram bem para um mundo de coisas físicas, tangíveis e escassas.
Até agora.
A revolução digital não apenas dobrou as regras; ela quebrou o tabuleiro. Hoje, os ativos mais valiosos do mundo são intangíveis, digitais e infinitamente replicáveis, e o nosso sistema legal simplesmente não sabe o que fazer com eles.
Pense nisso:
Seus Dados: Diferente de um bem físico, seus dados não se "gastam" com o uso e podem ser copiados infinitamente, gerando valor a cada nova cópia para empresas de tecnologia.
Os Algoritmos: Não são ferramentas estáticas, mas sistemas que aprendem e evoluem com base nos nossos próprios dados.
A Arte da IA: Uma imagem, música ou texto criado por um algoritmo não possui um "autor" humano.
De quem é essa criação?
Nosso Código Civil foi desenhado para distinguir bens móveis de imóveis.
A verdade inescapável é que a tecnologia avança em velocidade exponencial, enquanto o Direito, por sua natureza, se move em um ritmo muito mais lento.
A questão, portanto, vai muito além de uma simples atualização de leis. Precisamos repensar, de forma filosófica e urgente, o que significa "possuir" algo em um mundo onde os bens mais valiosos podem ser, ao mesmo tempo, de todos e de ninguém.
A resposta que encontrarmos para essa pergunta irá definir a arquitetura de poder e de riqueza do século XXI. Você está preparado para essa discussão?
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