O Homem com naufrágio dentro
JJo Jorge Adelar Finatto Jorg Jorge Adelar Finatto e Adelar Finatto O homem morava dentro do escafandro. Os peixes o acompanhavam onde quer que fosse. Habitava o território de uma aquarela marinha. As tardes povoadas de barcos, gaivotas, ventos, búzios. Ela partiu certa manhã para um giro em torno da ilha. Gostava de ouvir o rumor azul do mar batendo nas pedras. Nunca mais retornou. O homem foi mirar os longes na beira do alto penhasco. A barba cresceu, o vento misturou as folhas do calendário, enquanto ele a esperava. A lágrima verteu cálida sobre a face fria. Ele passou então a morar no interior do escafandro. Homem com naufrágio dentro. Ela estava deitada no leito submerso do seu coração. Nada em sua nudez, vestida de calor e luz, lembrava a oca presença. O rosto parecia sereno, feliz. Os cabelos flutuavam como anêmona. Ele quis morar com ela no fundo das águas. O irremediável abismo o chamava. Muitas noites adormece