SABER x FAZER


*Dulce Magalhães

Um antigo adágio da filosofia taoísta diz que "saber e não fazer é ainda não saber". Isso demonstra que o conhecimento por si só não tem relevância quando não é aplicado. Alguém alfabetizado que não lê, se nivela ao analfabeto. Alguém que recebeu um esclarecimento para tomar uma decisão, porém não implementou esta decisão, se nivela ao ignorante, àquele que não foi esclarecido. Quando não colocamos em prática nosso saber nos equiparamos a quem não sabe e, portanto, é ainda um não saber. Sábio é aquele que aperfeiçoa cada um de seus atributos por meio da prática constante, da disciplina saudável e da autoavaliação cotidiana. Sabedoria é o processo de integrar nosso querer, sentir e fazer, só assim podemos alcançar a condição de nos tornarmos sábios.

Contudo, nada há fora da ação, por isso se diz que os exemplos são a melhor expressão para a eficácia de qualquer discurso. Não há real coerência que não contenha o alinhamento do que sabemos com a forma como agimos. Se o saber se expressa por meio de nossas atitudes, podemos verdadeiramente medir o nível de sabedoria de alguém pela maneira como se comporta, isso também define seu nível de maturidade.

Por isso, o comportamento de uma criança pequena é algumas vezes inadequado para o convívio social, há um autocentramento, ela ainda está na fase do desenvolvimento do ego e não tem a medida dos limites. No processo de amadurecimento, esta criança vai descobrindo a melhor forma de agir em relação aos outros, ganhando cada vez mais habilidades sociais e se integrando ao processo comunitário.
O auge desse amadurecimento não é, como muitos acreditam, um status de sabedoria ou poder, de fato, é a gentileza que caracteriza o estado mais maduro do indivíduo, pois esta é a emanação de um estado interno de equilíbrio, paz, compreensão e atenção ao todo. A ausência de gentileza é um sintoma da perda da paz interior e também de um estágio não maduro de convivência, onde este fazer ainda não incorpora os princípios mais elevados do saber.

A gentileza é, portanto, uma arte a ser cultivada. Por isso, muitos povos sempre tiveram ritos para o desenvolvimento desse comportamento, como a cerimônia do chá dos japoneses, o tai chi chuan da China, o yoga dos indianos, a busca da visão dos Lakotas mexicanos, a cerimônia do fogo dos aborígenes australianos, entre outros exemplos. Todos esses ritos levam a um estado de maior silêncio interior para abrir a escuta para o exterior e sermos capazes de integrar o outro como parte de nossa experiência a cada momento.

Quando esse saber se transforma em comportamento, então temos um estado integrado, onde é repousante e tranquilo estar, daí a gentileza torna-se uma resposta natural. Assim, podemos concluir que uma medida de real sabedoria não é a quantidade de conhecimento de temos, mas o volume de gentileza que entregamos à vida. Reflita sobre isto. Suerte!


*Ph.D em filosofia com foco em planejamento de carreira.

“Sábio é aquele que aperfeiçoa cada um de seus atributos por meio da prática constante, da disciplina saudável e da autoavaliação cotidiana”.

Coluna “Trabalhe Bem de Dulce Magalhães no  Correio do Povo
de 30.09.2012.



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