QUEM FAZ A LÍNGUA: OS GRAMÁTICOS OU O POVO?
É difícil
dar um basta gramatical em assuntos lingüísticos. O povo, parece, é quem
decide. O risco é algumas sobras em
vestibulares e outros testes de ingresso.
Existe
a palavra: PRESIDENTA?
Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto?
Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que a candidata Dilma Roussef e seus apoiadores, pretendem que ela venha a ser a primeira presidenta do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada na mídia.
Presidenta???
Mas, afinal, que palavra é essa totalmente inexistente em nossa língua?
Bem, vejamos:
No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante... Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".
Um bom exemplo do erro grosseiro seria:
"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".
Por Miriam Rita Moro Mine.
UFPR
“Presidente
ou presidenta”, texto de Cláudio Moreno
Por blogs oswald
REPRODUZO ABAIXO TEXTO COLHIDO NO SITE “SUA LÍNGUA”, DO
PROFESSOR CLÁUDIO MORENO. PARA VARIAR, MORENO CONSEGUIU ALIAR
ERUDIÇÃO A CAPACIDADE ANALÍTICA.
BOA LEITURA. E VISITEM O SITE DO PROFESSOR. VALE A PENA.
PRESIDENTE ou PRESIDENTA Dilma? Finda a eleição, abre-se um
verdadeiro plebiscito entre os falantes; o resultado, que só conheceremos com o
tempo, pode apontar a vitória de uma das duas formas ou, o que é mais provável,
um honroso empate entre elas.
Conhecido o resultado das eleições, a vitória da ministra Dilma
Rousseff suscitou uma questão que anda na boca das gentes e faz meu telefone
tocar de dez em dez minutos: afinal, é presidente ou presidenta?
Como já expliquei numa coluna sobre generala, os tempos modernos
assistiram a uma ascensão feminina irreversível. Há mais de vinte anos as
mulheres do planeta — especialmente no Ocidente — vêm conquistando, assim de
mansinho, as mais altas posições na escala de poder, antes reservadas
exclusivamente para o sexo frágil (título que há muito os homens surrupiaram
das mulheres). Hoje não constitui novidade alguma encontrar uma mulher no cargo
de prefeito, devereador, de deputado,
de governador (o leitor há de notar que aqui
o masculino se refere ao cargo,
não à pessoa que o ocupa); nada mais justo, portanto, que recebam o tratamento
linguístico adequado e sejam chamadas deprefeitas, vereadoras, deputadas e governadoras.
É muito importante lembrar o que ocorreu com o vocábulo primeiro-ministro,
que passou por várias etapas antes de conquistar definitivamente o direito a
ser usado no feminino. Quando o mundo começou a falar em Indira Gandhi, eleita
em 1966, a imprensa brasileira foi apanhada de surpresa e saudou-a inicialmente
como “o
primeiro-ministro Indira“. O absurdo da
situação levou alguns a ousarem uma combinação híbrida, cruza de jacaré com
cobra-d’água: “a
primeiro-ministro Indira“. Esta forma esquisita foi a gota
derradeira, o passo decisivo para a metamorfose final, pois a não-concordância
do artigo com o substantivo, escandalosa demais para ser aceita por qualquer
ouvido normal, forçou a flexão natural para “a primeira-ministra Indira“. Quando Golda
Meir e Margaret Thatcher apareceram no cenário mundial, o nosso léxico já tinha
absorvido plenamente a inovação. E presidente, como fica?
A rigor, podemos deixá-lo na forma invariável, assim como
fazemos com a maioria dos vocábulos derivados dos antigos particípios
presentes: o/a viajante, o/a estudante,
o/a gerente, o/a assistente.
Contudo, sendo a adaptação e a evolução as duas características mais
importantes de um idioma vivo como o nosso, é natural que vá crescendo, pouco a
pouco (como tudo o que a língua faz), a tendência a flexionar em gênero alguns
desses vocábulos tradicionalmente considerados uniformes. Ao lado de mestre surgiu mestra,
forma cuja aceitação foi facilitada pelo extraordinário prestígio que desfrutam
as heroicas professoras que nos ensinaram a ler e a escrever — mas o mesmo
ainda não ocorreu com chefa, forma em que
muitos ainda farejam um viés (ô, palavrinha pedante!) pejorativo. O prezado
leitor pode ter certeza, porém, que a resistência é temporária, pois chefa tem a seu favor o fato de ser uma
flexão formada dentro das regras internas do idioma (no mundo vegetal, diríamos
que é uma plantinha do bem, nativa e espontânea, e não uma espécie exótica ou
transgênica, sempre suspeita). Em breve este feminino será aceito no clube das
formas cultas; o brasileiro, então, de acordo com seu gosto e sua intenção, poderá
escolher entre ela ou a forma genéricachefe para designar uma mulher que exerce um
cargo de chefia.
“Poderá escolher” — aqui é que bate o ponto. Não vejo por que
reclamar quando um velho galho produz um novo rebento, pois isso significa que
o repertório que a língua nos oferece acaba de ficar mais rico. Da costela de parenteacabou
nascendo o feminino parenta; há quem não
use, mas ele está aí, agradando a muito bom escritor. Assim também presidenta,
que figura, aliás, tanto no Aurélio quanto no Houaiss.
Quem preferir, trate o vocábulo como umcomum-de-dois (“substantivo que tem a mesma
forma para o feminino e para o masculino”), cuidando apenas em flexionar os
artigos e os adjetivos que o acompanham (o presidente eleito, a presidente eleita);
quem, no entanto, achar que presidenta é mais adequado para marcar o
coroamento da ascensão feminina (esta parece ser a opção de Dilma), ou que soa
melhor, etc. e tal, pode ficar tranquilo, que tem padrinhos poderosos. A partir
desta data, cada vez que alguém optar por uma ou por outra forma estará
participando de imenso plebiscito silencioso, que acabará, com o tempo,
determinando o destino das duas.
Oi, Newton!
ResponderExcluirResguardado o devido equilíbrio, acho que uma língua não deve estagnar, aliás, como tudo na vida.
Faz parte da evolução natural de uma língua a introdução de neologismos, adaptações a termos estrangeiros, gírias (com cuidado!), etc., etc. E por que não aplicar essa formação de feminino para uma função tão relevante? E, além do mais, quem sou eu para contrariar gramáticos que aceitam as duas formas como corretas?
A língua é dinâmica na medida em que assimilar os termos da comunidade que a utiliza como recurso de suas expressões: aí sua riqueza e finalidade. Uma língua não pode ser criativa? Não fosse assim, teríamos uma língua muito restrita, pobre.
Abraço, Adelaide