PLANTAS ORNAMENTAIS: MUITO ALÉM DA DECORAÇÃO


                                                                                    Atelene Normann Kämpf

 Nos centros urbanos cada vez mais edificados, tecnologias verdes como telhados vegetados (Greenroofs) e paredes vegetadas (Façade végétalisée) tentam substituir os jardins residenciais, ainda presentes como molduras vivas nas casas de pequenas cidades do interior ou em bairros privilegiados das grandes metrópoles.
Hoje, a ênfase do uso de plantas ornamentais se volta para o ambiente interno de áreas construídas, onde, pelo ritmo atual de vida, as pessoas passam a maior parte do seu dia: escritórios, salas de reunião, consultórios, lojas, supermercados ou bancos.

A atmosfera da rua é reconhecidamente poluída; o que se pode dizer sobre a qualidade do ar nos ambientes internos?  Autores especializados no assunto afirmam que em ambientes fechados o ar é sempre mais poluído do que na rua, e a presença de VOCs contribui muito para isso.

VOCs é uma sigla internacional, do inglês “Volatil Organic Compounds” (Compostos Orgânicos Voláteis - COV, em português). A sigla representa substâncias que, geralmente por evaporação, se difundem no ar.

 Quando penso em produtos que se difundem na atmosfera lembro-me da acetona (“se não fechar

rapidamente o vidrinho de acetona, o líquido escapa” - diziam algumas manicures), do éter (aquele cheiro dos hospitais de antigamente) e, principalmente, dos derivados de petróleo (o odor característico dos postos de gasolina). Mas a lista dos compostos orgânicos voláteis é longa: produtos de limpeza (desinfetantes, desengordurantes), colas, cosméticos, aerossóis, pesticidas e herbicidas, só para citar alguns. Entre os princípios ativos aparecem acetato de etila, aldeído fórmico, benzeno e outros. É uma combinação de alguns VOCs que deixa o automóvel com o conhecido “cheirinho de carro novo”.
 Tais compostos emitem os gases lentamente, mas, mesmo que em baixas concentrações, sendo um processo contínuo, podem provocar irritações e desconforto nas pessoas. Grande parte desses produtos é usada na limpeza residencial, de escritórios ou fábricas. Por isso VOCs são considerados importantes agentes de poluição do ar em ambientes fechados, onde a sua presença se torna mais grave do que em ambientes abertos.

 Há poucos dias um amigo foi parar na Emergência de um hospital com repentina falta de ar, aceleração cardíaca, tontura e queda de pressão. Qual a causa? A sua sala de trabalho recebera um pequeno móvel tratado horas antes com um cupinicida em aerosol. Ele respirou o ar contaminado por um período de duas a três horas, o suficiente para provocar os transtornos citados.

 Nem sempre a presença dos compostos voláteis no ar é reconhecida pelo olfato e podemos estar

expostos por longos períodos aos seus efeitos sem o saber. Entre os danos à saúde citam-se, além dos referidos acima: náuseas, vertigens, redução da força física, irritação nos olhos, no nariz e na garganta. Este é um assunto que integra a área de Conforto Ambiental e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, desde o final do século passado, tem tomado iniciativas para normatizar os padrões da qualidade do ar em ambientes construídos; tais esforços se concentram especialmente nos ambientes com climatização artificial. A legislação nacional reconhece o termo “síndrome dos edifícios doentes” (Sick building sindrome) , relacionada a casos de irritabilidade nas vias respiratórias em pessoas que passam a maior parte do tempo em ambientes climatizados.

Nos últimos 30 anos foram publicados diversos trabalhos, iniciados e impulsionados pela NASA, sugerindo que as plantas vivas são capazes de melhorar a qualidade do ar em ambientes fechados, reduzindo os níveis de VOCs no ar. Os trabalhos pioneiros comprovaram tais efeitos usando plantas cultivadas em câmaras artificiais. Talvez por isso, de imediato os resultados foram questionados na prática. Nos últimos dez anos, entretanto, a pesquisa acadêmica em diferentes países expandiu os métodos de investigação e tem sustentado a tese de que plantas ornamentais podem servir como bio-purificadores de ar.
Partindo das conclusões dos estudos da NASA , que visava o uso de plantas em projetos espaciais, desde a virada do século um grupo de pesquisa da Universidade de Tecnologia (Sydney, Austrália) vem divulgando artigos sobre a importância da decoração com plantas vivas na manutenção da qualidade do ar em ambientes construídos, e, em especial, no papel das plantas para a redução de VOCs.



 


Detalhes sobre o trabalho podem ser acessados on line em

<http://www.springerlink.com/content/jg1w03m75m341146/> e

<http://www.nipa.asn.au/docs/UTS-Ch9-Fin.pdf >.

 Os estudos deste grupo demonstram que a redução na concentração de VOCs se dá por absorção através da parte aérea do vegetal (folhas, flores e ramos), das raízes e também do substrato usado nos vasos.

 Em 2007, na Queen’s University (Kingston , Canadá), foi usado o termo “paredes vivas”

(Biowalls e Living walls, como sinônimos) proposto como um interessante sistema biológico para purificação do ar em interiores (< http://www.queensu.ca/pps/reports/biowalls.pdf>). A tecnologia implica na construção de uma espécie de canteiro vertical, considerado como uma matriz porosa filtrante, devido às características do substrato. Nessa matriz agem as plantas, o substrato e os microorganismos nele contidos, resultando em significativa redução de VOCs. O processo foi transferido para a área industrial em duas versões comerciais no Canadá

 No Centro de Analises Físicas e Químicas de Beijing (Beijing, China), a equipe de Yan-Ju Liu

(2007) usou o termo Phytoremediation para expressar a capacidade de remoção de VOCs do ar por plantas (*). O grupo realizou um estudo comparando a eficiência de 73 espécies ornamentais na remoção de benzeno volatilizado e indicaram as dez espécies como as mais promissoras na fitorremediação:

Crassula portulacea, Hydrangea macrophylla;

Cymbidium ‘Golden Elf’;

Ficus microcarpa var. fuyuensis;

Dendranthema morifolium;

Citrus medica var. sarcodactylis;

Dieffenbachia amoena ‘Tropic Snow’;

Spathiphyllum ‘Supreme’;

 Nephrolepis exaltata ‘Bostoniensis’ e

Dracaena deremensis ‘Variegata’.

(*) Em português, o termo fitorremediação tem sido mais usado com referência à recuperação de águas e solos por plantas.

São várias as listas de plantas ornamentais indicadas como eficientes na tarefa de remover VOC. Algumas são específicas para determinados poluentes, como a publicada pelo The Foliage for Clean Air Council (Quadro 1), criado por Dr. Bill Wolverton, antigo pesquisador da NASA, na Northeast Mississippi Community College (Estados Unidos).

Quadro 1. As 10 plantas mais efetivas na remoção de formol , benzeno e monóxido de carbono

Nome botânico Em inglês Em português

Chamaedorea seifrizii Bamboo Palm Chamedórea; Camedóreabambu

Aglaonema modestum Chinese Evergreen Aglaonema; Café-de-salão

Hedera helix English Ivy Hera

Gerbera jamesonnii Gerbera Daisy Gérbera

Dracaena deremensis ‘Janet Craig’ Janet Craig Dracena

Dracaena marginata Dragon Tree Dracena; Dracena-demadagascar

Dracaena fragrans ‘Massangeana’ Corn Plant Pau-d’água

Sansevieria trifasciata ‘Laurentii’ Mother-in-Law’s

Tongue

Espada-de-são-jorge

Chrysanthemum x morifolium =

Dendranthema x grandiflorum

Florist Mum Crisântemo

Spathiphyllum Peace Lily Lírio-da-paz

Fonte: The Foliage for Clean Air Council, http://www.accessmylibrary.com/article-1G1-11747815/foliageclean-

air-council.html , revisto e adaptado.

Para o Dr. R.A. Wood, do Centro de Ecotoxicologia, UTS (Gore Hill, Australia), a fitorremediação é um processo exercido de forma integrada pela planta e o substrato. Tal processo pode ser realizado por qualquer espécie de planta envasada. Esclarece ainda que, na interação plantasubstrato, são os microorganismos presentes no substrato os agentes responsáveis pelas rápidas respostas na redução de VOCs. Como os microorganismos do substrato variam conforme a planta cultivada, diferentes plantas apresentam maior ou menor eficiência para determinados tipos de VOCs.

O tema é longo. Fazemos uma pausa, concluindo com as palavras da Prof. Margareth Burchett, da Universidade de Tecnologia, Austrália: o microcosmo das plantas envasadas representa um sistema de purificação do ar que é auto-regulável, portátil, flexível, de baixo custo, sustentável e bonito. Pode ser usado em qualquer edificação e complementa qualquer medida de engenharia que tenha como objetivo a diminuição dos gases poluentes no ar.
Para ler mais:

Yan-Ju Liu e colaboradores. Which ornamental plant species effectively remove benzene from indoor air?

Atmospheric Environment, v.41, n.3, 2007. Elsevier.

Wood, R.A, e colaboradores. Plants remove harmful substances from polluted indoor air. On line:

http://www.inscape.net.nz/Understand/Research/Plants+Remove+Harmful+Sustances+From+Polluted+Indoo

r+Air.html.

Fonte: Revista de Plasticultura, Campinas. jul-ago 2010 www.revistaplasticultura.com.br/

Página pessoal de Atelene Normann Kämpf: http://chasqueweb.ufrgs.br/~atelene.kampf/

Veja também: CULTIVO DE BROMÉLIAS

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