PLANTAS ORNAMENTAIS: MUITO ALÉM DA DECORAÇÃO
Atelene Normann Kämpf
A atmosfera da rua é reconhecidamente poluída; o que se pode dizer
sobre a qualidade do ar nos ambientes internos? Autores especializados no assunto afirmam que
em ambientes fechados o ar é sempre mais poluído do que na rua, e a presença de
VOCs contribui muito para isso.
VOCs é
uma sigla internacional, do inglês “Volatil Organic Compounds”
(Compostos Orgânicos Voláteis - COV, em português). A sigla representa
substâncias que, geralmente por evaporação, se difundem no ar.
rapidamente o vidrinho de acetona, o líquido escapa” - diziam
algumas manicures), do éter (aquele cheiro dos hospitais de antigamente) e,
principalmente, dos derivados de petróleo (o odor característico dos postos de
gasolina). Mas a lista dos compostos orgânicos voláteis é longa: produtos de
limpeza (desinfetantes, desengordurantes), colas, cosméticos, aerossóis,
pesticidas e herbicidas, só para citar alguns. Entre os princípios ativos
aparecem acetato de etila, aldeído fórmico, benzeno e outros. É uma combinação
de alguns VOCs que deixa o automóvel com o conhecido “cheirinho de
carro novo”.
expostos por longos períodos aos seus efeitos sem o saber. Entre
os danos à saúde citam-se, além dos referidos acima: náuseas, vertigens,
redução da força física, irritação nos olhos, no nariz e na garganta. Este é um
assunto que integra a área de Conforto Ambiental e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária - ANVISA, desde o final do século passado, tem tomado iniciativas
para normatizar os padrões da qualidade do ar em ambientes construídos; tais
esforços se concentram especialmente nos ambientes com climatização artificial.
A legislação nacional reconhece o termo “síndrome dos edifícios doentes” (Sick building sindrome) , relacionada a casos de irritabilidade nas vias
respiratórias em pessoas que passam a maior parte do tempo em ambientes
climatizados.
Nos últimos 30 anos foram publicados diversos trabalhos, iniciados e impulsionados pela NASA, sugerindo que as plantas vivas são capazes de melhorar a qualidade do ar em ambientes fechados, reduzindo os níveis de VOCs no ar. Os trabalhos pioneiros comprovaram tais efeitos usando plantas cultivadas em câmaras artificiais. Talvez por isso, de imediato os resultados foram questionados na prática. Nos últimos dez anos, entretanto, a pesquisa acadêmica em diferentes países expandiu os métodos de investigação e tem sustentado a tese de que plantas ornamentais podem servir como bio-purificadores de ar.
Partindo das conclusões dos estudos da NASA , que visava o uso de plantas em projetos espaciais, desde a virada do século um grupo de pesquisa da Universidade de Tecnologia (Sydney, Austrália) vem divulgando artigos sobre a importância da decoração com plantas vivas na manutenção da qualidade do ar em ambientes construídos, e, em especial, no papel das plantas para a redução de VOCs.
Detalhes sobre o trabalho podem ser acessados on line em
<http://www.springerlink.com/content/jg1w03m75m341146/> e
<http://www.nipa.asn.au/docs/UTS-Ch9-Fin.pdf >.
(Biowalls e Living
walls, como sinônimos) proposto como
um interessante sistema biológico para purificação do ar em interiores (< http://www.queensu.ca/pps/reports/biowalls.pdf>). A tecnologia implica na construção de uma
espécie de canteiro vertical, considerado como uma matriz porosa filtrante,
devido às características do substrato. Nessa matriz agem as plantas, o
substrato e os microorganismos nele contidos, resultando em significativa
redução de VOCs. O processo foi transferido para a área industrial em
duas versões comerciais no Canadá
(2007) usou o termo Phytoremediation para
expressar a capacidade de remoção de VOCs do ar por plantas (*). O grupo
realizou um estudo comparando a eficiência de 73 espécies ornamentais na remoção
de benzeno volatilizado e indicaram as dez espécies como as mais promissoras na
fitorremediação:
Crassula portulacea,
Hydrangea macrophylla;
Cymbidium ‘Golden
Elf’;
Ficus microcarpa var. fuyuensis;
Dendranthema morifolium;
Citrus medica var.
sarcodactylis;
Dieffenbachia amoena ‘Tropic
Snow’;
Spathiphyllum ‘Supreme’;
Nephrolepis exaltata ‘Bostoniensis’
e
Dracaena deremensis ‘Variegata’.
(*) Em português, o termo fitorremediação tem
sido mais usado com referência à recuperação de águas e solos por plantas.
São várias as listas de plantas ornamentais indicadas como
eficientes na tarefa de remover VOC. Algumas são específicas para
determinados poluentes, como a publicada pelo The Foliage for Clean Air Council (Quadro 1), criado por Dr. Bill Wolverton, antigo
pesquisador da NASA, na Northeast Mississippi Community College (Estados
Unidos).
Quadro 1. As 10 plantas mais efetivas na remoção de formol , benzeno e monóxido de carbono
Nome botânico Em inglês Em português
Chamaedorea seifrizii Bamboo Palm Chamedórea; Camedóreabambu
Aglaonema modestum Chinese Evergreen Aglaonema; Café-de-salão
Hedera helix English
Ivy Hera
Gerbera jamesonnii Gerbera
Daisy Gérbera
Dracaena deremensis ‘Janet Craig’ Janet Craig Dracena
Dracaena marginata Dragon Tree Dracena; Dracena-demadagascar
Dracaena fragrans ‘Massangeana’ Corn Plant Pau-d’água
Sansevieria trifasciata ‘Laurentii’
Mother-in-Law’s
Tongue
Espada-de-são-jorge
Chrysanthemum x
morifolium =
Dendranthema x grandiflorum
Florist Mum Crisântemo
Spathiphyllum Peace Lily Lírio-da-paz
Fonte: The Foliage
for Clean Air Council, http://www.accessmylibrary.com/article-1G1-11747815/foliageclean-
air-council.html , revisto e
adaptado.
Para o Dr. R.A. Wood, do Centro de Ecotoxicologia, UTS (Gore Hill, Australia), a fitorremediação é um processo exercido de forma integrada pela planta e o substrato. Tal processo pode ser realizado por qualquer espécie de planta envasada. Esclarece ainda que, na interação plantasubstrato, são os microorganismos presentes no substrato os agentes responsáveis pelas rápidas respostas na redução de VOCs. Como os microorganismos do substrato variam conforme a planta cultivada, diferentes plantas apresentam maior ou menor eficiência para determinados tipos de VOCs.
O tema é longo. Fazemos uma pausa, concluindo com as palavras da Prof. Margareth Burchett, da Universidade de Tecnologia, Austrália: o microcosmo das plantas envasadas representa um sistema de purificação do ar que é auto-regulável, portátil, flexível, de baixo custo, sustentável e bonito. Pode ser usado em qualquer edificação e complementa qualquer medida de engenharia que tenha como objetivo a diminuição dos gases poluentes no ar.
Para ler mais:
Yan-Ju Liu e colaboradores. Which ornamental plant species
effectively remove benzene from indoor air?
Atmospheric Environment, v.41,
n.3, 2007. Elsevier.
Wood, R.A, e colaboradores. Plants remove harmful
substances from polluted indoor air. On line:
http://www.inscape.net.nz/Understand/Research/Plants+Remove+Harmful+Sustances+From+Polluted+Indoo
r+Air.html.
Página pessoal de Atelene Normann Kämpf: http://chasqueweb.ufrgs.br/~atelene.kampf/
Veja também: CULTIVO DE BROMÉLIAS
Veja também: CULTIVO DE BROMÉLIAS
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