Sou professora do Estado do Paraná e
fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberde Abreu Lima
“Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão
seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS
razões que geram este panorama desalentador. Não há necessidade
de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as
falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os
professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos
repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de
aula e observem a realidade brasileira.
Que alunos são esses “repletos de
estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto
mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas
da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os
filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para
a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e
destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente
são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.
Está na hora dos professores se
rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da
sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela
escola.Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha
infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era
inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos
professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou
simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje
“repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na
rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até
altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é
ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na
vida.
Realmente, nada está bom. Porque o que
essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e
disciplina.
Rememorando, o que tínhamos nós, os
mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente:
responsabilidade, esperança, alegria.
Esperança que se estudássemos teríamos
uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam
que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos
olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a
emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques,
subir em árvores?
E, nas aulas, havia respeito, amor
pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas
“chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com
fluência.
Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série.
Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão.
E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores “incapazes” dão
aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros
de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes
resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros
locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas
escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios
interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.
E, mesmo, assim, a indisciplina está presente,
nada está bom. Além disso, esses mesmos professores
“incapazes”, elaboram atividades escolares como provas,
planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem
remuneração;
Todos os profissionais têm direito a
um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados.
Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre
ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os
profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se
sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40
h.semanais. E a saúde? É a única profissão que
conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas.
Plano de saúde? Muito precário.
Há de se pensar, então, que são bem
remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos
profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de
ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as
mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma
chance de “cair fora”.Todos devem ter
vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que
esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de
“vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é
motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é
tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia, até
de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos
alunos, talvez agridam seus pais e familiares.
Lembro de um artigo lido, na revista
Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe
quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo
limite.
E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se
na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas
chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série
após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a
sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e
eles já são adultos.
Por que os alunos do Japão estudam? Por
que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas
o mais importante é porque há disciplina. E é isso que
precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme
carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas,
preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos
professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de
cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas
cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de
lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade.
Existem muitos colégios nesse Brasil
afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a
nossa realidade! E,
precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que
for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo Em plena era
digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros
de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!),
e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!
Passou da hora de todos abrirem os
olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país,
futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade
incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores
até agora não responderam a todas as acusações de serem
despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com
aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me
metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.
Vamos fazer uma corrente via internet,
repasse a todos os seus! Grata.
Vamos começar uma corrente nacional
que pelo menos dê aos professores respaldo legal quando um aluno o
xinga, o agride... chega de ECA que não resolve nada, chega de
Conselho Tutelar que só vai a favor da criança e adolescente (capazes
às vezes de matar, roubar e coisas piores), chega de salário baixo,
todas as profissões e pessoas passam por professores, deve ser a
carreira mais bem paga do país, afinal os deputados que ganham 67% de
aumento tiveram professores, até mesmo os "alfabetizados
funcionais". Pelo amor de Deus somos uma classe com força!!!
Somos politizados, somos cultos, não precisamos fechar escolas, fazer
greves, vamos apresentar um projeto de Lei que nos ampare e valorize
a profissão.
Vanessa Storrer -
professora
da rede Municipal de Curitiba!
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