A Falsa Idéia do Tamanho do EU
Por Newton Luiz Finato
Fomos arremessados na vida e
dotados de sentidos e mente e com isso nos sentimos os reis da criação.
Afirmamos que nenhum outro ser, além do homem, pode determinar a si mesmo. A
pedra, por ser bruta e assim permanecer; os vegetais, por serem limitados na
sua mobilidade e os animais, por agirem por extinto, ou seja, por impulsos de
sobrevivência. Todos estão pré-determinados.
O homem acha-se senhor de si e
da natureza. Quando se expressa é na primeira pessoa um imenso EU precede as
suas ações.
Criamos sistemas de moral,
direito, sob esse pressuposto de liberdade, mas nem a rejeição de nossos
semelhantes nem penas rigorosíssimas nos tornaram mais livres. Cometemos pecados, imoralidades e crimes. Sempre e em qualquer lugar foi assim. Daí a pergunta: seremos livres mesmo?
Achamo-nos senhores, mas em
momento algum debelamos nosso sofrimento.
Sequer, temos conhecimento na
nossa real natureza. “Ubuntu”
é uma noção africana do homem que se aplicaria melhor a compreensão de nós
mesmos.
São muitas as aleatoriedades que determinam nossa
conduta, por isso, sempre acho grande demais nosso eu nas manifestações
diárias. Assim é a responsabilidade que lhe atribuímos, nunca achei que se
justificasse um treinador ser retirado pela perda de um campeonato após haver
demonstrado sua competência em haver chegado até o topo. Entretanto, esse não é o entendimento das
torcidas.
É um ponto de vista para reflexão. Até hoje, nenhuma teoria se estabeleceu
definitivamente, todos os sistemas filosóficos são relativos ao tempo e à época
e, às vezes, nem chegam a ter grande significado.
Se atirássemos uma pedra para o
alto e ela tivesse consciência de seu eu é certo que pensaria na sua liberdade
ao desafiar a gravidade nos poucos momentos de sua ascensão.
Menos quando sofre. Ai se acha vítima, muitas vezes recebe os
infortúnios e mazelas como castigo, senão como algo desmerecido. Pois, seu poder ficou limitado já não pode
controlar.
Tenho sérias dúvidas se alguma
vez pudemos determinar alguma coisa ou realmente fazer valer o que chamamos
nossa vontade. Temos a impressão que
sim. Essa aparência de controle de autoria se torna manifesta na vida tão forte
nas nossas mentes que pensamos que somos autores.
Por uma razão prática temos que
aceitar que seja assim. Como afastaríamos
alguém prejudicial a nossa sobrevivência, ou que nos causasse danos se não
pudéssemos responsabilizá-lo e buscar diminuir o mal causado e até afastar
certas pessoas do convívio.
Ainda assim, sabedor de todos
esses aspectos práticos, talvez até por ser assim, duvido da liberdade de
escolha, livre arbítrio. Ressalta, a meu
ver, a igualdade de todos os seres, quer no reino mineral, vegetal ou
animal. Por que seria diferente com os
humanos? Consciência só explicaria uma
capacidade de refletir sobre si e as coisas, porém, assim mesmo, estar errado
sobre sua liberdade. Uma autonomia aparente.
A razão como instrumento de
pensamento nem sempre nos levou às melhores decisões. Vemos que por ela, muitas vezes, temos destruído
a nos mesmos como indicam as guerras.
Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos
nós!"
Esse significado se assenta
sobre um sentimento: da felicidade de todos os outros como condição para não
ficarmos tristes.
A própria matemática, cujas verdades são imutáveis
não como teorias, mas como teoremas é uma abstração. Alguém já viu igualdade na natureza, pois na
matemática ela existe.
Que a reflexão sirva para diminuir um pouquinho
nosso EGO.
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