O SEGREDO DO CASAMENTO
Por
Stephen Kanitz
Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.
Editora Abril, Revista Veja, edição 1922, ano 38, nº 37, 14 de setembro de 2005, página 24
http://www.kanitz.com/entrevista/Ana_Maria/maisvoce0.wmv
Meus
amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado
trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os
homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo
homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.
Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.
Ninguém ensina
isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos
sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.
Hoje em dia o
divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a
mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro
casamento - a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher.
Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar
as malas mais vezes do que eu.
O segredo do
casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a
solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo
no fundo é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige
alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos
em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a
namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.
Há quanto tempo
vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou
conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo
não fazem uma lua de mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua
irrestrita atenção?
Sem falar nos
inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. Mulher e
marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem
conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um
casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos,
mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte
de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de
seu cônjuge.
Vamos ser
honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma
roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes
não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez
os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se
divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da
separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo
bairro, um novo círculo de amigos.
Não é preciso um
divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e
não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam
porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar
um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos,
novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento
anterior.
Não existe essa
tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O
mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A
melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação
estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar,
aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensando fazer no
início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não
fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.
Portanto,
descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, em vez de sair por
aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus
filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a
importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas
e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso, de vez em quando é necessário
casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.
Stephen Kanitz é
administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1922, ano 38, nº 37, 14 de setembro de 2005, página 24
Assista
os vídeos sobre o artigo:
http://www.kanitz.com/entrevista/Ana_Maria/maisvoce0.wmv
Em contraponto o vídeo-crônica AMAR É FLERTAR COM A MORTE por Andréa Beheregaray,
cujo olhar feminino amplia muito a reflexão sobre o tema.
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