O segundo ano do governo Dilma


Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 01/01/2012
Com muitas outras coisas, começa hoje o segundo ano do governo Dilma. Ela deve estar satisfeita com o primeiro.
Há quem tenha se ocupado, ao longo de 2011, em contabilizar o número de problemas com que ela teve que lidar. A atenção da mídia, por exemplo, foi galvanizada pela estatística das sucessivas "crises" pelas quais passou o ministério. Foram sete demissões e, se dependesse da imprensa, outra meia dúzia teria deixado a Esplanada.
Potencialmente mais grave, o governo viveu, ano passado, a ameaça de um solavanco forte na economia. Com a Europa em pandarecos e os Estados Unidos mal das pernas, o comércio internacional se retraiu e diminuiu o dinamismo da economia brasileira. Continuamos a crescer, mas em ritmo menor.
Embora muitos comentaristas tivessem se escandalizado quando o Banco Central começou a cortar os juros, a maior parte dos entendidos considera, hoje, que a decisão estava correta. Assim como as outras medidas que o governo tomou para manter o mercado interno aquecido.
Os sinais de que o ano terminou positivamente para a maioria das pessoas são perceptíveis: comerciantes contentes com as vendas de Natal, recordes nas compras de passagens aéreas e confiança dos consumidores em alta.
Dilma enfrentou o desafio de administrar a economia brasileira em um ano complicado e se saiu bem. Talvez com razão, seria possível dizer que ela conseguiu isso por ter mantido, no fundamental, a política econômica que herdou de Lula (assim como muitos de seus gestores diretos).
Longe de ser algo que desmereça o que o governo fez, a continuidade (mais que natural nesse caso, pois a sensibilidade dos investidores anda aguçada no ambiente de crise e qualquer sugestão de mudança de rota poderia assustá-los) era um compromisso de campanha. Para dizer o óbvio, Dilma foi eleita porque as pessoas se convenceram de que era isso que ela faria.
Sua prova mais crucial era, no entanto, outra. Suceder um governante muito bem avaliado — considerado, segundo as pesquisas, como "o melhor que o Brasil já teve" pela maioria das pessoas — não era tarefa fácil. Mesmo para políticos experientes, seria difícil. Imagine para quem estava em começo de carreira.
Por mais que as pessoas gostem de Lula, não se percebe que tenham hoje saudade dele como governante. Como Dilma não as decepcionou, não sentem falta do ex-presidente.
Ela terminou o ano batendo o recorde de aprovação para presidentes em momento parecido. Nenhum de seus antecessores — Lula incluído — chegou ao fim do primeiro ano de mandato com os números que alcançou na mais recente pesquisa do Ibope, realizada em dezembro.
Isso não quer dizer que a população aplauda tudo que o governo faz. Pelo contrário: área por área, a pesquisa mostra como são elevadas as críticas a diversas políticas, como as de saúde e de segurança.
O importante é o saldo, o resultado a que chegam as pessoas quando põem na balança acertos e erros, sucessos e fracassos, avanços e retrocessos. Dilma está bem porque, para a maioria das pessoas, ela cumpre seu papel, o governo funciona e o país avança.
2012 é um ano de eleições municipais e isso costuma ser bom para os presidentes. Considerando aqueles para os quais a comparação é possível, foi o que ocorreu com Fernando Henrique e com Lula.
FHC terminou seus primeiros 12 meses, em dezembro de 1995, com 41% de "ótimo" e "bom" e foi a 47% no fim do ano seguinte, de eleição municipal. No segundo mandato, repetiu a tendência, apesar do patamar mais baixo: 16% no fim de 1999 e 24% em novembro de 2000.
No primeiro mandato de Lula, algo parecido: 42% em dezembro de 2003 e 45% no fim de 2004. No segundo: 50% em 2007 e 70% em 2008 (dados sempre do Datafolha).
Duas razões: a) o eleitor desloca o foco de sua atenção para o município, escrutinando o trabalho do prefeito e sendo menos rigoroso na avaliação de presidente e governador; b) os candidatos não os questionam (ou os elogiam), preferindo apresentar-se como capazes de trazer benefícios para a cidade pelo "trânsito" que têm em Brasília e na capital.
Ou seja: é bem possível que Dilma termine 2012 melhor do que está começando.
 

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