Com
muitas outras coisas, começa hoje o segundo ano do governo Dilma. Ela deve
estar satisfeita com o primeiro.
Há quem
tenha se ocupado, ao longo de 2011, em contabilizar o número de problemas com
que ela teve que lidar. A atenção da mídia, por exemplo, foi galvanizada pela
estatística das sucessivas "crises" pelas quais passou o
ministério. Foram sete demissões e, se dependesse da imprensa, outra meia
dúzia teria deixado a Esplanada.
Potencialmente
mais grave, o governo viveu, ano passado, a ameaça de um solavanco forte na
economia. Com a Europa em pandarecos e os Estados Unidos mal das pernas, o
comércio internacional se retraiu e diminuiu o dinamismo da economia
brasileira. Continuamos a crescer, mas em ritmo menor.
Embora
muitos comentaristas tivessem se escandalizado quando o Banco Central começou
a cortar os juros, a maior parte dos entendidos considera, hoje, que a
decisão estava correta. Assim como as outras medidas que o governo tomou para
manter o mercado interno aquecido.
Os
sinais de que o ano terminou positivamente para a maioria das pessoas são
perceptíveis: comerciantes contentes com as vendas de Natal, recordes nas
compras de passagens aéreas e confiança dos consumidores em alta.
Dilma
enfrentou o desafio de administrar a economia brasileira em um ano complicado
e se saiu bem. Talvez com razão, seria possível dizer que ela conseguiu isso
por ter mantido, no fundamental, a política econômica que herdou de Lula
(assim como muitos de seus gestores diretos).
Longe
de ser algo que desmereça o que o governo fez, a continuidade (mais que
natural nesse caso, pois a sensibilidade dos investidores anda aguçada no
ambiente de crise e qualquer sugestão de mudança de rota poderia assustá-los)
era um compromisso de campanha. Para dizer o óbvio, Dilma foi eleita porque
as pessoas se convenceram de que era isso que ela faria.
Sua
prova mais crucial era, no entanto, outra. Suceder um governante muito bem
avaliado — considerado, segundo as pesquisas, como "o melhor que o
Brasil já teve" pela maioria das pessoas — não era tarefa fácil. Mesmo
para políticos experientes, seria difícil. Imagine para quem estava em começo
de carreira.
Por
mais que as pessoas gostem de Lula, não se percebe que tenham hoje saudade
dele como governante. Como Dilma não as decepcionou, não sentem falta do
ex-presidente.
Ela
terminou o ano batendo o recorde de aprovação para presidentes em momento
parecido. Nenhum de seus antecessores — Lula incluído — chegou ao fim do
primeiro ano de mandato com os números que alcançou na mais recente pesquisa
do Ibope, realizada em dezembro.
Isso
não quer dizer que a população aplauda tudo que o governo faz. Pelo
contrário: área por área, a pesquisa mostra como são elevadas as críticas a
diversas políticas, como as de saúde e de segurança.
O
importante é o saldo, o resultado a que chegam as pessoas quando põem na
balança acertos e erros, sucessos e fracassos, avanços e retrocessos. Dilma
está bem porque, para a maioria das pessoas, ela cumpre seu papel, o governo
funciona e o país avança.
2012 é
um ano de eleições municipais e isso costuma ser bom para os presidentes.
Considerando aqueles para os quais a comparação é possível, foi o que ocorreu
com Fernando Henrique e com Lula.
FHC
terminou seus primeiros 12 meses, em dezembro de 1995, com 41% de
"ótimo" e "bom" e foi a 47% no fim do ano seguinte, de
eleição municipal. No segundo mandato, repetiu a tendência, apesar do patamar
mais baixo: 16% no fim de 1999 e 24% em novembro de 2000.
No
primeiro mandato de Lula, algo parecido: 42% em dezembro de 2003 e 45% no fim
de 2004. No segundo: 50% em 2007 e 70% em 2008 (dados sempre do Datafolha).
Duas
razões: a) o eleitor desloca o foco de sua atenção para o município,
escrutinando o trabalho do prefeito e sendo menos rigoroso na avaliação de
presidente e governador; b) os candidatos não os questionam (ou os elogiam),
preferindo apresentar-se como capazes de trazer benefícios para a cidade pelo
"trânsito" que têm em Brasília e na capital.
Ou
seja: é bem possível que Dilma termine 2012 melhor do que está começando.
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