Teoria das Inteligências Múltiplas, psicólogo pesquisador Howard Gardner - 5 mentes para o Sec.21
HOWARD GARDNER - "O planeta não vai ser salvo por
quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com
ele."
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"Os educadores devem conhecer
cada um de seus alunos e ensiná-los da maneira que eles melhor poderão
aprender"
Howard Gardner, que se
dedica a estudar a forma como o pensamento se organiza, balançou as bases da
Educação ao defender, em 1984, que a inteligência não pode ser medida só pelo
raciocínio lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola. Segundo o
psicólogo norte-americano, havia outros tipos de inteligência: musical,
espacial, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal, naturalista e
existencial. A Teoria
das Inteligências Múltiplas atraiu a atenção dos professores, o
que fez com que ele se aproximasse mais do mundo educacional.
Hoje, Howard Gardner tem um novo foco de pensamento, organizado no que chama de cinco mentes para o futuro, em que a ética se destaca. "Não basta ao homem ser inteligente. Mais do que tudo, é preciso ter caráter", diz, citando o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882). E emenda: "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele".
Além de lecionar na Universidade de Harvard e na Boston School of Medicine, ele integra o grupo de pesquisa Good Work Project, que defende o comportamento ético. Esse trabalho e o impacto de suas ideias na Educação são temas desta entrevista concedida à NOVA ESCOLA em Curitiba, onde esteve em agosto, ministrando palestras para promover o livro Multiple Intelligences Around the World (Inteligências Múltiplas ao Redor do Mundo) ainda não editado no Brasil.
Hoje, Howard Gardner tem um novo foco de pensamento, organizado no que chama de cinco mentes para o futuro, em que a ética se destaca. "Não basta ao homem ser inteligente. Mais do que tudo, é preciso ter caráter", diz, citando o filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882). E emenda: "O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele".
Além de lecionar na Universidade de Harvard e na Boston School of Medicine, ele integra o grupo de pesquisa Good Work Project, que defende o comportamento ético. Esse trabalho e o impacto de suas ideias na Educação são temas desta entrevista concedida à NOVA ESCOLA em Curitiba, onde esteve em agosto, ministrando palestras para promover o livro Multiple Intelligences Around the World (Inteligências Múltiplas ao Redor do Mundo) ainda não editado no Brasil.
Howard
Gardner: Durante
centenas de anos, os psicólogos seguiam uma teoria: se você é inteligente, é
assim para tudo. Se é mediano, se comporta dessa maneira todo o tempo. E, se
você é burro, é burro sempre. Dizia-se que a inteligência era determinada pela
genética e que era possível indicar quão inteligente é uma pessoa submetendo-a
a testes. Minha teoria vai na contramão disso. Se você me pergunta se minhas
ideias tiveram impacto significativo, eu digo que não. Não há escolas e cursos
Gardner, mas pessoas que ouvem falar dessas coisas e tentam usá-las.
Howard
Gardner: As
instituições de ensino mudam lentamente e estão preparando jovens para os
séculos 19 e 20. Além disso, os docentes lecionam do modo como foram ensinados.
Mesmo que sejam expostos a novos conhecimentos, é preciso que eles queiram
aprender a usá-los. Se isso não ocorre, nada muda.
Howard
Gardner: No
livro Multiple Intelligences Around the World, lançado este ano,
diversos autores descrevem como implementaram minhas ideias. Enfatizo duas
delas: a primeira é a individualização. Os educadores devem conhecer ao
máximo cada um de seus alunos e, assim, ensiná-los da maneira que eles melhor
poderão aprender. A segunda é a pluralização. Isso significa que é
necessário ensinar o que é importante de várias maneiras - histórias, debates,
jogos, filmes, diagramas ou exercícios práticos.
Howard
Gardner: Realmente
é mais fácil individualizar o ensino numa sala com dez crianças e em
instituições ricas. Mas, mesmo sem essas condições ideais, é possível: basta
organizar grupos formados por aqueles que têm habilidades complementares e
ensinar de modos diferentes. Se o professor entende a teoria, consegue lançar
mão de outras formas de trabalhar - como explorar o que há no entorno da
escola. Se ele acredita que só com equipamentos caros vai conseguir bons
resultados em sala de aula, não entendeu a essência do pensamento.
Howard
Gardner: É
um erro enorme acreditar que por termos mais a aprender, necessitamos ensinar
mais. A questão central é que várias coisas que antes tinham de ser memorizadas
agora estão facilmente disponíveis para pesquisa. Colocar uma quantidade cada
vez maior de informação na cabeça da garotada é um desastre. Infelizmente, essa
é uma prática comum em diversos cantos do mundo. Depois de viajar muito, posso
afirmar que o interesse de diversos ministros da Educação é apenas fazer com
que seu país se saia bem nos testes internacionais de avaliação. E isso é
ridículo.
Howard
Gardner: Acredito
que, se o Brasil quer ser uma força importante no século 21, tem de buscar uma
forma de educar que tenha mais a ver com seu povo, e não apenas imitar
experiências de fora, como as dos Estados Unidos e da Europa. O país precisa se
olhar no espelho, em vez de ficar olhando a bússola.
Howard
Gardner: Gastamos
bilhões de dólares desenvolvendo testes para medir o nível em que está a
Educação, mas eles, por si só, não ajudam a aprimorá-la - simplesmente nos
dizem quem está melhor ou pior. Para saber isso, basta olhar para as notas. A
diferença dos testes de inteligências múltiplas é que é necessário aplicá-los
somente naqueles que têm dificuldades. Assim, podemos verificar as formas de
ensinar mais adequadas a eles, ajudando todos - e a Educação, de fato.
Howard
Gardner: A
maior parte dos testes mede a inteligência lógica e de linguagem. Quem é bom
nas duas é bom aluno. Enquanto estiver na escola, pensará que é inteligente.
Porém, se decidir dar um passeio pela cidade, rapidamente descobrirá que outras
habilidades fazem falta, como a espacial e a intrapessoal - a capacidade que
cada um tem de conhecer a si mesmo, fundamental hoje.
Howard
Gardner: Ela
não era importante no passado porque apenas repetíamos o comportamento dos
nossos pais. Agora, todos nós necessitamos tomar decisões sobre onde morar, que
carreira seguir e se é hora de casar e de ter uma família. E quem não tem um
entendimento de si mesmo comete um erro atrás do outro.
Howard
Gardner: Estamos
vivendo três poderosas revoluções.
-Uma delas é a globalização. As pessoas trabalham em empresas multinacionais e mudam de país, o que é bem diferente de quando as populações não tinham contato umas com as outras.
-A segunda revolução é a biológica. Todos os dias, o conhecimento científico se aprimora e isso afeta a maneira de ensinar e de aprender. O cérebro das crianças poderá ser fotografado no momento em que estiver funcionando, permitindo detectar onde estão os pontos fortes e os fracos e a melhor forma de aprender.
-A terceira revolução é a digital, que envolve realidade virtual, programas de mensagens instantâneas e redes sociais. Tudo isso vai interferir na forma de pensar a Educação no futuro.
-Uma delas é a globalização. As pessoas trabalham em empresas multinacionais e mudam de país, o que é bem diferente de quando as populações não tinham contato umas com as outras.
-A segunda revolução é a biológica. Todos os dias, o conhecimento científico se aprimora e isso afeta a maneira de ensinar e de aprender. O cérebro das crianças poderá ser fotografado no momento em que estiver funcionando, permitindo detectar onde estão os pontos fortes e os fracos e a melhor forma de aprender.
-A terceira revolução é a digital, que envolve realidade virtual, programas de mensagens instantâneas e redes sociais. Tudo isso vai interferir na forma de pensar a Educação no futuro.
Howard
Gardner: As
cinco mentes não estão conectadas com as inteligências e são possibilidades que
devemos nutrir. A primeira é a mente disciplinada - se queremos ser bons em
algo, temos de nos esforçar todos os dias. Isso costuma ser difícil para os
jovens, que mudam rapidamente de uma tarefa para outra. Essa mente pressupõe
ainda a necessidade de compreender as formas de raciocínio que desenvolvemos:
histórica, matemática, artística e científica. O problema é que muitas escolas
ensinam somente fatos e informações.
Howard
Gardner: Essa
capacidade é dominada por um segundo tipo de mente, a sintetizadora. Ela nos
aponta em que prestar atenção e como os dados podem ser combinados. É preciso
ter critério para fazer julgamentos e saber como comunicar-se de forma
sintética. Para os educadores, era mais fácil sintetizar quando usavam-se
apenas um ou dois livros.
Howard
Gardner: A
criativa. Ela levanta novas questões, cria soluções e é inovadora. Pessoas
desse tipo gostam de se arriscar e não se importam de errar e tentar de novo.
Essa é a mente que pensa fora da caixa. Mas você só consegue isso quando tem
uma caixa: disciplina e síntese. Por isso, o conselho que dou é dominar a
disciplina na juventude para ter mais tempo de ser criativo.
Howard
Gardner: Uma
delas envolve o respeito - e é mais fácil explicar a mente respeitosa do que
alcançá-la. Ela começa com o reconhecimento de que cada ser humano é único e,
por isso, tem crenças e valores diferentes. A questão é o que fazemos com essa
conclusão. Nós podemos matar e discriminar os diferentes ou tentar entendê-los
e cooperar com eles. Desde que nascem, os humanos percebem se vivem em um
ambiente respeitoso. Observam como os pais se relacionam e tratam os filhos,
como os mestres interagem com os colegas e com os estudantes e assim por
diante. O respeito está na superfície.
Howard
Gardner: Sim.
No que se refere à ética, é necessário imaginar-se com múltiplos papéis: ser
humano, profissional e cidadão do mundo. O que fazemos não afeta uma rua, mas o
planeta. Temos de pensar nos nossos direitos, mas também nas responsabilidades.
O mais difícil com relação à ética é fazer a coisa certa mesmo quando essa
atitude não atende aos nossos interesses. Ao resumir esses dois últimos tipos
de mente, eu diria que pessoas que têm atitudes éticas merecem respeito. O
problema é que muitas vezes respeitamos alguém só pelo dinheiro ou pela fama. O
mundo certamente seria melhor se dirigíssemos nosso respeito às pessoas
extremamente éticas.
Howard
Gardner: Sim.
No entanto, elas não se adaptam umas às outras de forma fácil. Sempre haverá
tensão entre a disciplina e a criatividade e entre o respeito e a ética. Cabe a
você respeitar colegas e superiores, mas, se eles fizerem algo errado, como
agir? Ignorar o fato ou confrontá-los? Saber conciliar os diferentes tipos de
mente é um desafio para a inteligência intrapessoal. Só você pode se entender e
achar seu caminho.
Howard
Gardner: Eles
possuem excelência técnica, são altamente disciplinados, engajados e envolvidos
e gostam do que fazem. Além disso, também são éticos. Estão sempre se
questionando sobre que atitudes tomar, levando em conta a moral e a
responsabilidade e não o que interessa para o bolso deles. O bom cidadão se
envolve nas decisões, participa, conhece as regras e as leis: isso é
excelência. Por último, não tenta se beneficiar à custa disso. Há pessoas bem
informadas que só promovem o próprio interesse. O bom cidadão não pergunta o
que é bom para ele, mas para o país.
Howard
Gardner: -Cinco
Mentes para o Futuro, Howard Gardner, 160 págs., Ed. Artmed, tel.
0800-703-3444, 41 reais
-Estruturas da Mente - A Teoria das Inteligências Múltiplas, Howard Gardner, 340 págs., Ed. Artmed, 65 reais
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