A AMEAÇA CHINESA

Em 6 de outubro divulguei um artigo de Carlos Lima intitulado a A ARMADILHA CHINESA, prognosticando o desastre que advirá para nossa economia, bem como para a economia mundial em razão do desenvolvimento da produção industrial chinesa e as conquistas de mercado que já estão acontecendo devido ao baixo custo de seus produtos.

Bem antes foi publicado em 2 de julho de 2008, sob o título “Uma nova era já começou” com a assinatura do articulista Carlos Lacerda, outro artigo que prenunciava uma verdadeira revolução, uma visão apocalíptica da Europa, vaticinando crises e mudanças drásticas na distribuição de classes sociais.  Já se passaram mais de três anos e podemos ter idéia se o prognóstico estava correto.

Abaixo publico o artigo na integra e também um comentário denominado “Revolução ou não tanto!” contestando as conclusões anunciadas por Carlos Lacerda.

Ambos, artigo e comentário foram extraídos do endereço http://quiosque.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ae.stories/10529

Como estamos em um mundo globalizado esperamos que tais presságios não se cumpram e com os pesos contidos nos artigos e contrapeso oferecido pelo comentário estaremos aptos a formarmos opinião mais equilibrada sobre o tema.


“Uma nova era já começou” e

“Revolução ou não tanto!”

Começou a revolução! 


por Carlos_Lacerda

Está a acontecer na nossa rua e à nossa volta, e ainda não percebemos que a Revolução já começou!


As pessoas andam um bocado distraídas! Não deram conta que há cerca de 3 meses começou a Revolução! Não! Não me refiro a nenhuma figura de estilo, nem escrevo em sentido figurado! Falo mesmo da Revolução “a sério” e em curso, que estamos a viver, mas da qual andamos distraídos (desprevenidos) e não demos conta do que vai implicar. Mas falo, seguramente, duma Revolução! 

De facto, há cerca de 3 ou 4 meses começaram a dar-se alterações profundas, e de nível global, em 10 dos principais factores que sustentam a sociedade actual. Num processo rápido e radical, que resultará em algo novo, diferente e porventura traumático, com resultados visíveis dentro de 6 a 12 meses… E que irá mudar as nossas sociedades e a nossa forma de vida nos próximos 15 ou 20 anos! 
… tal como ocorreu noutros períodos da história recente: no status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, nas alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), ou na crise do petróleo de 73. 
Estamos a viver uma transformação radical, tanto ou mais profunda do que qualquer uma destas! 
Está a acontecer na nossa rua e à nossa volta, e ainda não percebemos que a Revolução já começou! 

Façamos um rápido balanço da mudança, e do que está a acontecer aos “10 factores”: 

1º- A Crise Financeira Mundial: desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se “bancarrota”) e só se tem aguentado porque os 4 grandes Bancos Centrais mundiais - a FED, o BCE, o Banco do Japão e o Tesouro Britânico - têm injectado (eufemismo que quer dizer: “emprestado virtualmente à taxa zero”) montantes astronómicos e inimagináveis no Sistema Bancário Mundial, sem o qual este já teria ruído como um castelo de cartas. Ainda ninguém sabe o que virá, ou como irá acabar esta história !... 

2º- A Crise do Petróleo: Desde há 6 meses que o petróleo entrou na espiral de preços. Não há a mínima teoria de como irá terminar. Duas coisas são porém claras: primeiro, o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia. Por exemplo, quem utiliza frequentemente o avião, assistiu há 2 semanas a uma subida no preço dos bilhetes de… 50% (leu bem: cinquenta por cento). É escusado referir as enormes implicações sociais deste factor: basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (…e as férias massivas!) 

3- A Contracção da Mobilidade: fortemente afectados pelos preços do petróleo, os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais (que sempre implicam transporte) irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial. 

4- A Imigração: a Europa absorveu nos últimos 4 anos cerca de 40 milhões de imigrantes, num movimento incessante e anacrónico (os imigrantes são precisos para fazer os trabalhos não rentáveis, mas mudam radicalmente a composição social de países-chave como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra ou a Itália). Este movimento irá previsivelmente manter-se nos próximos 5 ou 6 anos! A Europa terá em breve mais de 85 milhões de imigrantes! 

5º- A Destruição da Classe Média: quem tem oportunidade de circular um pouco pela Europa apercebe-se que o movimento de destruição das classes médias (que julgávamos estar apenas a acontecer em Portugal) está de facto a “varrer” o Velho Continente! Em Espanha, na Holanda, na Inglaterra ou mesmo em França os problemas das classes médias são comuns e (descontados alguns matizes e diferente gradação) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção. 

6º- A Europa Morreu: embora ainda estejam projectar o cerimonial do enterro, todos os Euro-Políticos perceberam que a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num “caldo” de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns!... Já nenhum Cidadão Europeu acredita na “Europa”, nem dela espera coisa importante para a sua vida ou o seu futuro! O “Requiem” pela Europa deu-se há dias na Irlanda! 

7º- A China ao assalto! contou-me um profissional do sector: a construção naval ao nível mundial comunicou aos interessados a incapacidade em satisfazer entregas de barcos nos próximos 2 anos, porque TODOS os estaleiros navais do Mundo têm TODA a sua capacidade de construção ocupada por encomendas de navios… da China. O gigante asiático vai agora “atacar” o coração da Indústria europeia e americana (até aqui foi just a joke…). Foram apresentados há dias no mais importante Salão Automóvel mundial os novos carros chineses. Desenhados por notáveis gabinetes europeus e americanos, Giuggiaro e Pininfarina incluídos, os novos carros chineses são soberbos, réplicas perfeitas de BMWs e de Mercedes (eu já os vi!) e vão chegar à Europa entre os 8.000 e os 19.000 euros! E quando falamos de Indústria Automóvel ou Aeroespacial europeia…helás! Estamos a falar de centenas de milhar de postos de trabalhos e do maior motor económico, financeiro e tecnológico da nossa sociedade. À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! 

8- A Crise do Edifício Social: As sociedades ocidentais terminaram com o paradigma da sociedade baseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, as famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem laços de projecto comum, os jovens não querem compromissos… 

9- O Ressurgir da Rússia: para os menos atentos: a Rússia está a evoluir tecnológica, social e economicamente a uma velocidade estonteante! Voltou a encontrar o seu orgulho e tem uma liderança. Em 5 anos ultrapassará a Alemanha! 

10- A Revolução Tecnológica: nos últimos meses o salto dado pela revolução tecnológica (incluindo a biotecnologia, a energia, as comunicações, a nanotecnologia e a integração tecnológica) suplantou tudo o previsto e processou-se a um ritmo 9 vezes superior à média dos últimos 5 anos! 

Eis pois, a Revolução! 
Tal como numa conta de multiplicar, estes dez factores estão ligados por um sinal de “vezes” e no fim têm um sinal de “igual”. Mas o resultado é ainda desconhecido e… imprevisível. 
Uma coisa é certa; as nossas vidas vão mudar radicalmente nos próximos 12 meses e as mudanças marcar-nos-ão (permanecerão) nos próximos 10 ou 15 anos. 
Contrariamente a um comentador que muito estimo pelo seu brilho e inteligência (Carlos Magno, programa “Contraditório” da “Antena 1”, 13 de Junho) eu não acho que o Mundo está “a entrar num crespúsculo” (sic). 
Espera-nos o Novo! Como em todas as Revoluções! 

Um conselho final: é importante estar dentro do Novo! Da Revolução! Ir em frente! Sem medo! 
Afinal, depois de cada Revolução, o Mundo sempre mudou para melhor! 

Carlos Lacerda, Quarta, 2 de Julho de 2008 às 17:35




Como em todas as Revoluções!

REVOLUÇÃO OU NÃO TANTO!
O Sr. Lacerda, com o devido respeito, engana-se a diversos títulos e, uma vez que diz de si “ser engenheiro ao quadrado”, deveria ponderar, a nosso ver, as coisas de outro modo. Sem ofensa!

1- Em primeiro lugar, a crise petrolífera de 1973 nada têm a ver com a actual e muito menos provocou alguma revolução a nível mundial. Como se sabe, o denominado choque petrolífero de 1973 tratou-se de uma sanção dos países produtores árabes da região do Golfo ao ocidente que apoiou Israel na guerra contra o Egipto e a Síria, incluindo alguns batalhões iraquianos. Nessa altura, esses países, em retaliação pelo apoio que levou Israel à vitória, pura e simplesmente aumentaram o preço das exportações para o ocidente em 300%. Mas não o fizeram de igual modo para todos os países importadores do mundo, muito pelo contrário: até há pouco tempo praticavam várias tabelas de preços e suspeita-se que ainda o façam, embora a coberto de acordos de trocas, etc. Portanto, a crise de 1973 foi dirigida a um alvo específico. A de agora, e diferentemente dessa, resulta de um ligeiro aumento da procura, sobretudo por parte do sudeste asiático (Índia e China) que, não obstante, também são produtores e estão longe de ter esgotado as suas capacidades, preferindo importar do que extrair e refinar, por ser economicamente mais vantajoso (aliás, o exemplo vem de alguns países do golfo que, há décadas, extraem mas não refinam ou refinam pouco, preferindo importar produtos refinados em troca de crude) e resulta sobretudo da especulação selvagem e grotesca no chamado “mercado de futuros” e, dentro deste, nas igualmente chamadas “comodities”. Haverá porventura alguma outra razão plausível para que num único mês o barril de crude tenha aumentado 20 dólares a não ser a ânsia criminosa de gigantescos lucros fáceis? – E, pior ainda, é que entre os investidores/especuladores estão muitos Estados e muitos Bancos Centrais, sobretudo os mais ricos, entre eles o BCE, que investem duro em “futuros”. Alguém achará que foi por mero acaso que o crude começou galopantemente a subir quando estoirou o mercado imobiliário? Os “investidores” tinham de encontrar outra mina e bem depressa a acharam… Mas tal como no mercado imobiliário, em que o excesso de oferta ditou a brusca descida de preços (e ninguém, no seu perfeito juízo, vai pagar uma hipoteca por 30 ou 40 anos quando sabe que, no final, o imóvel que comprou valerá cerca de um terço do valor da aquisição – é este o sub prime à americana que começa a estender-se agora à Europa), a subida brusca do crude está a levar a que diversos países do mundo, com especial relevo para a América latina iniciem ou incrementem a sua produção e, ainda, que os países ou as zonas mais ricas do globo façam investimentos colossais em energias alternativas, como já está a acontecer nos principais países da Europa, que pretendem, no horizonte temporal de uma década, reduzir a dependência do petróleo na casa dos dois dígitos. E então o cenário mais provável é que se verifique também um “sub prime” do petróleo. Parece até inevitável que aconteça por uma outra razão também ela fortíssima – a das alterações climáticas.
2-Dizer que a China e Rússia são uma ameaça porque em breve se irão tornar dois gigantes… bom, só o desconhecimento da realidade social e económica de cada um desses países pode conduzir a tais afirmações. A China terá cerca de 800 milhões de pobres e gravíssimas carências em infra-estruturas básicas (o último sismo ali ocorrido deu uma pálida imagem do que ali se passa nessa matéria). Se fosse possível a China quisesse de um momento para o outro construir todas as infra-estruturas básicas e dar aos seus cidadãos direitos sociais mínimos teria de se endividar por um incalculável espaço de tempo. Se consegue exportar muito e a baixo preço é a custa de mão-de-obra infra remunerada e só acessível, ainda assim, a uma pequeníssima franja da sua enorme população. Ora ninguém pode ser gigante ou tigre, a não ser de papel (para utilizar a metáfora maoísta), com uma enorme miséria dentro de portas. Mesmo que tenha milhares de barcos e ponha automóveis, computadores e texteis na Europa ao preço da uva mijona. E o caso da Rússia é um pouco parecido: era uma potência militar no tempo da guerra-fria à custa da pobreza mais extreme dos seus cidadãos; agora e bem tenta erguer-se mas esta ainda muito longe de atingir os padrões ocidentais em geral, quanto mais os da Alemanha. Vá-se por exemplo a UFA, um dos seus mais importantes centros petroquímicos e veja-se o que são as suas infra-estruturas, o nível de vida e os salários de trabalhadores altamente especializados que por ali abundam…

Em suma, Sr. Lacerda, bom seria que o mundo estivesse mergulhado na revolução que o Sr. já vê em todo o lado e publicamente anuncia. O mundo está é em estagnação, isso sim, com uns fogachos de artifício aquém e além mas que não passam disso mesmo. O teorema é tão simples quanto isto: em espaços finitos e limitados, como é o planeta terra, não pode haver crescimentos nem mudanças infinitos. (O grifo é meu).

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