O PODER DA VALIDAÇÃO
Por Stephen Kanitz
Todo mundo é inseguro, sem
exceção. Os super-confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais,
professores, chefes nem colegas de trabalho.
Afinal, ninguém é de ferro.
Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo
que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada,
da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranqüilo para o
resto do espetáculo. Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada
novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que
chegam.
Insegurança é o problema humano
número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos
todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida,
levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir esta insegurança?
Alguns acreditam que estudando
mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por
uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está
totalmente fora do nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada
definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.
Segurança depende de um processo
que chamo de "validação", embora para os estatísticos o significado
seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou
informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar
alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que
ela tem valor.
Todos nós precisamos ser
validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito
ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão
decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se,
por definição.
Você sempre será um ninguém, a
não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa
confirmá-lo, como dizer: "Você tem significado para mim". Validar é o
que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: "Gosto de você pelo que
você é". Quem cunhou a frase "Por trás de um grande homem existe uma
grande mulher" (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de
validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.
Um simples olhar, um sorriso, um
singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão
preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair
validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o
"máximo", que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e
cônjuges que o "máximo" são eles. Puxamos o saco de quem não
gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.
Por falta de validação, criamos
um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de
validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros
em busca de poder.
Validação permite que pessoas
sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem.
Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e
crescerão para ser o que queremos.
Se quisermos tornar o mundo
menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência:
validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora
certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um "valeu, cara,
valeu".
Você já validou alguém hoje?
Então comece já, por mais inseguro que você esteja.
Stephen Kanitz
Artigo publicado na Revista
Veja, edição 1705, ano 34, nº 24, 20 de junho de 2001, pág.22
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